Meu intercâmbio nos Estados Unidos aos 16 anos

Acho que uma experiência tão rica em crescimento merece um espaço aqui.

Quando eu tinha 16 anos, fui fazer intercâmbio nos Estados Unidos. Fui pela Bil Intercâmbios, no esquema de High School, onde você mora na casa de uma família americana. Eu acabei ficando 8 meses, só não fiquei mais porque a minha escola aqui do Brasil não queria me deixar voltar na metade do último ano.

A minha Host Family

217244_10150163573225672_5563891_nCom certeza a minha host family foi o ponto alto da minha experiência, tornando tudo muito mais fácil. Os “meus pais americanos” também tinham 4 filhos, igual aos meus pais. Trevor, Rhianna, Brittany e Donald. Os dois mais velhos moravam em outra cidade, pois faziam faculdade. A Rhianna tinha a minha idade, acabamos ficando bem amigas. E o Trevor tinha uns 11 anos na época, virou meu irmão pentelho mais novo.

Eles eram demais, me acolheram realmente como um membro da família, como uma filha. Jantávamos juntos todas as noites, víamos filmes, comemoramos o Natal e Thanksgiving como uma verdadeira família. Não tenho o que reclamar em relação a eles.

Primeiras impressões

Eu achava que tiraria o intercâmbio e a distância de letra, por ser tão extrovertida e sem vergonha. Com certeza isso me ajudou muito, mas não foi nada fácil.

O meu primeiro erro foi ter ido namorando. Na verdade, nem namorando oficialmente eu estava, mas era muito apaixonada para enxergar que abrir mão desse relacionamento ia ser mil vezes melhor pra mim e pra minha experiência. A gente se falava todos os dias, eu não estava com a minha cabeça lá, estava no Brasil ainda, com ele. Eu fui pensando na volta.

Além disso, eu sou extremamente apegada à minha família e casa, algo que só enxerguei quando fui pro intercâmbio. Duas semanas antes de ir, já chorava constantemente pensando na distância entre eu e o meu amor na época, embarcar foi uma das coisas mais difíceis que já fiz, sem dúvida alguma.
Você pode estar pensando: “O que ela tá falando? Tinha apenas 16 anos.” Eu sei que tinha. E sei que hoje tenho 25 e lembrando do que senti naquele momento, foi foda.
Até porque nada de muito absurdo já aconteceu na minha vida e essa é a base que eu tenho. Todos meus amigos tinham ido ao aeroporto, minha família estava lá, eu entrei naquela sala de embarque soluçando e permaneci assim por muitas horas.

Fui bem recebida e ia no show da Lady Gaga no mesmo dia que cheguei. Não tinha mais motivos pra chorar, né? Quando eu cheguei na casa, me deu uma vontade de explodir de tanto desespero e sofrimento. Não sei se foi por ver que seria uma realidade completamente diferente da minha, ou por perceber que moraria no meio do mato e no frio por quase um ano… Só sei que deu. E pra piorar, quando abri a minha mala, caíram uns 15 envelopes de cartas da minha família. Li todas. Chorei litros. Tomei um banho e partiu, Lady Gaga! Foi incrível, ela é foda. E ganhou meu respeito e admiração absurda depois desse show.

As primeiras duas semanas foram muito difíceis, regadas a muito choro e saudade. Na verdade, eu chorei basicamente o intercâmbio inteiro, mas eu tive meus altos e baixos.

Uma dica pra quem vai pro intercâmbio: desligue-se da sua vida no seu país de origem. Vá de corpo e alma! Esqueça as ligações de vídeo frequentes com a família, ainda mais se você é que nem eu, de sentir saudades e se apoiar nesse contato constante. E, se estiver namorando, eu sugiro que termine. Sorry, it’s true.

Esportes

A minha irmã jogava futebol, fui chamada para jogar no time dela. A burra aqui colocou na application que jogava futebol. Eu jogava, fiz um ano de aula de futebol, mas era uma negação. Ainda mais comparada com as americanas. Mas entrei pro time. Além do futebol, eu queria ser cheerleader.
Na moral, qual a chance de fazer high school nos EUA depois de assistir tantos filmes americanos e não ser cheerleader?
Cheguei no final de Agosto, os testes pra entrar no time de cheer foram em Abril. Ou seja, as meninas passaram o verão inteiro treinando e eu cheguei uma semana antes do início das aulas. Fiz um pequeno teste e a treinadora deixou que eu entrasse no time. É claro que ela não ia negar isso pra uma menina que vai passar apenas um ano ali, né?

No meu primeiro treino, senti 30 olhos me fuzilando, todas as meninas deviam pensar: “Quem é essa mina?” E vocês sabem como mulher é, né. Cheerleaders americanas, então… Oh my God! Mas eu engoli a vergonha e ignorei tantos olhares tortos e saí me apresentando pra todo mundo: “Hello, my name is Sara and I’m an exchange student from Brasil. What’s your name?” Bem cara de pau meixxxmo. A maioria foi bem simpática comigo, mas tinham umas que eu sentia a falsidade de longe.

No começo eu ficava completamente perdida nas coreografias e gritos de guerra, mas fui pegando aos poucos e comecei a me sentir bem segura com tudo. Assim que as aulas começaram, eu fui a alguns treinos do time de dança também, mas não dava pra conciliar os dois times e eu precisava escolher apenas um. Como já dancei muito, decidi por algo novo e fiquei no time de torcida.

Fui cheerleader o ano todo. Na primeira temporada a gente torce pro futebol americano, depois pro basquete e wrestling. Foi bem legal!

 

A escola americana

A escola era algo surreal, me lembrava muito os filmes. A minha era apenas dos três últimos anos do colegial, tinham mais de 3 mil alunos e 4 horários diferentes de almoço, porque o refeitório não suportaria todos os alunos ao mesmo tempo. Cada aluno escolhe as próprias matérias, eram seis no total. Para você se formar no final e ter uma média geral boa, é claro que tinham algumas que eram obrigatórias. Eu também precisava de algumas matérias para que o MEC validasse o meu intercâmbio, mas fui espertinha. Precisava de algo relacionado à ciências, como física. Fiz apenas um trimestre de física. No resto dos trimestres, as minhas matérias eram basicamente: inglês, álgebra, história dos EUA, pintura e desenho, fotografia (aprendi a revelar etc, foi incrível) e pasme, pólo aquático. Sim, uma das minhas matérias era pólo aquático. Eu jogava pólo na piscina por uma hora e meia, foi simplesmente maravilhoso. Me descobri uma ótima goleira.

Ah, algo que eu acho incrível nos EUA é que as escolas públicas são realmente boas. A minha era pública e tinha literalmente tudo, de matérias a esportes. Tinha uma matéria que era “Casamento”. Você aprendia sobre como viver em um casamento? Sério, tinham matérias surreais, diferentes.

Minha dificuldade com o clima frio e chuvoso

Ah, o clima… Não sei se você já leu o livro ou assistiu o filme Crepúsculo, mas uma coisa bem característica da história é o clima da cidade. Chuva e frio. E chuva. E chuva. Eu morava perto da cidade que se passa a história e era exatamente assim. Chuva, chuva, chuva. Céu cinza, depressão e frio. Morava em Port Orchard, a uma hora de Seattle, no estado de Washington.
Quem me conhece, sabe o quanto eu amo o calor, o sol, um céu azul… E pode imaginar o quão difícil foi viver em um lugar assim. Eu já estava longe do meu país, da minha família e dos meus amigos, ainda me tiraram o sol? Porra, meu intercâmbio foi mesmo um tratamento de choque.
Eu não sou médica, mas eu poderia afirmar que tive depressão quando estive lá. Eu não tinha vontade de sair de casa, de fazer nada, nem do meu quarto eu saia direito. Comia muito, mas muito mesmo, acabei mudando muito fisicamente, tanto por ter engordado, quanto por ter mudado muito o cabelo e a sobrancelha (ficou ridícula, parecia uma linha, tipo Angelina Jolie no passado). Chorava muito, foi foda. Hoje eu enxergo o quanto eu sofri, o quanto eu não me sentia em casa e eu mesma vivendo lá.

Saudades de ser eu mesma

Quando você está em um país em que tudo é muito diferente do que você sempre foi acostumado, o povo, a cultura, a língua… É difícil se acostumar, é difícil se sentir em casa. Se sentir você. E uma coisa que me incomodava muito, mas muito no começo, foi não me sentir eu mesma nem quando eu estava falando. Você só é 100% você mesma quando está falando na sua língua materna, quando se sente confortável em falar, tem as suas piadas, seu jeito… Em inglês eu nunca me senti 100% eu mesma, nunca. Mesmo falando fluentemente, não é a mesma coisa. O meu jeito muda, minhas gírias mudam, minhas expressões mudam… E além de tudo isso, as pessoas me enxergam de uma forma diferente, eu sou “a diferente” dali, a “estrangeira”, a “coitadinha”. É foda.
Mais foda ainda por quem sempre teve uma personalidade tão forte e quem sempre deu tanto valor a “ser eu mesma sempre”.

Os americanos

Olha, nada contra os americanos, inclusive, conheci muitos maravilhosos. Fiz boas amizades, amo a minha host family… Mas os americanos no geral, eu não sei. Achei um povo bipolar, frio… Talvez egoísta. Sabe aquela pessoa que vê que você é “carne nova no pedaço” e vem trocar uma puta ideia com você? É super simpática, interessada, amigável… Enfim, um anjo! Você pensa: “Nossa, ela vai ser a minha amiga!” E no dia seguinte… Ela cruza com você no corredor e nem cumprimenta. Finge que não conhece.
Sim, é bizarro nesse nível. E não era só na minha cidade, só comigo… A maioria dos meus amigos que fizeram intercâmbio nos EUA sentiram a mesma coisa. Foda.

Os meus melhores amigos durante a minha experiência com certeza foram os outros intercambistas, em especial dois brasileiros que estavam na mesma escola que eu, uma holandesa e uma mexicana. Além, é claro, de alguns poucos americanos. Mas enfim, é claro que pessoas que estão passando pelas mesmas dores, acabam se identificando e unindo mais facilmente. Agradeço muito por ter outros ali comigo.

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Juliette, Gabriela e Gabriel ❤

Meu canal

Uma forma que encontrei de colocar isso pra fora, me entreter e ajudar outras pessoas foi criar um canal. Hoje eu acredito que se tivesse continuado com o meu canal, estaria famosa. Comecei lá no comecinho do Youtube… Devia ter continuado.
Mas enfim, usava o Twitter e muita gente me perguntava sobre algumas coisas da minha rotina, por isso comecei a fazer vídeos sobre diversos assuntos, desabafos, dicas… Enfim, a mesma coisa que acabo fazendo aqui, mas em forma de vídeos. Vídeos bem mal feitos direto da câmera do meu notebook. Mas tava ótimo pra época.

Hoje muitos desses vídeos nem estão disponíveis no meu canal, acabei deixando no modo privado, mas enfim… Foi muito bom pra mim.

Saudades rolês

Nos EUA é proibido que menores de 21 anos consumam bebida alcoólica. Por isso, é muito raro rolar grandes festas em cidades pequenas, sempre acaba em polícia. Enquanto no Brasil, sempre tinham festas, confraternizações etc… Lá não era bem assim. E as pessoas, no geral, eram diferentes. O clima, a frieza… Enfim. Eu sempre adorei sair, sempre foi uma ótima forma de me distrair. Nos dias em que saí lá, fui muito feliz. Mas por ficar na maior parte do tempo em casa, a cabeça ia longe e os dias eram mais difíceis.

O intercâmbio no geral

Por mais que eu tenha focado no sofrimento que rolou nesse tempo todo, eu sei que eu fui muito feliz. Tive muitos dias alegres ao lado de quem eu gosto, muitas amizades novas e risadas durante as aulas e esportes.

Aprendi tanto, que nem sei… Aprendi durante as minhas aulas, sobre coisas que nem imaginava aprender na escola, fiquei fluente em inglês, aprendi a lidar com as minhas emoções, a ficar longe de casa, sobre novas culturas, a ouvir, a me ouvir e a dar valor a mim mesma, aos meus momentos. Hoje, eu enxergo o quanto eu cresci durante esses 8 meses. Como eu dou mais valor àqueles que amo, a minha casa, a tudo que tenho.

Viajei pra outros estados com a minha família, fui pra Califórnia, Pensilvânia, pra Disneylândia, conheci pessoas do mundo inteiro, dei risada, chorei, dancei, comi (muito) e fui feliz. No final das contas, eu fui eu mesma, comigo. E hoje, eu dou um valor imenso a essa experiência, a cada dia que passou.

Achei até interessante escrever sobre tudo nos dias de hoje, acho que depois de tantos anos eu realmente entendo o que senti e vivi, tudo que aprendi. Famoso amadurecimento.

INTERCAMBIO-ESTADOS-UNIDOS

 

 


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