Desculpa por não ter te ouvido antes. Você sempre me deu sinais, beliscadas e tapas na orelha dizendo o que eu deveria fazer. Sempre. E muitas, muitas vezes mesmo, eu não te ouvi.
Muitas vezes achei que as coisas poderiam mudar com o tempo, que a vida me daria outros sinais, mas você nunca errou. Sempre soube o melhor pra mim, pro meu coração, pra minha alma e corpo.
Eu não sei porquê eu, e com certeza muitas outras pessoas, fazemos isso. Você está dentro de cada um de nós, a gente te sente lá, nos dizendo o que fazer. E por quê ignoramos?
Autossabotagem. Dizem que levam anos para aprendermos a te ouvir direito, pra entender como você dá os sinais que dá. Mas eu acho que o que demora é o nosso aprendizado. A gente tem que errar pra querer acertar. A gente tem que ir entendendo, sem precisar de você nos dizendo, do que gostamos e não gostamos. O que queremos e não queremos.
Com o tempo, não precisamos mais do seu sussurro no nosso ouvido dizendo “pula fora, não perde seu tempo”, porque a gente já viveu aquela situação, a gente já sabe que é perda de tempo.
Mas não seria mais fácil se eu tivesse te ouvido? Acho que sim. Mas aí eu não saberia o que sei hoje. Talvez não daria tanto valor pra certas coisas, pra você.
E muita gente acha que é importante te ouvir para tomar grandes decisões, como se o futuro pudesse depender de uma só decisão. A verdade é que você sempre diz algo. Seja no mercado, pra decidir se é melhor comprar papel higiênico hoje ou amanhã, como quando conhecemos uma pessoa que mexe com a gente.
São as nossas pequenas, as nossas minúsculas ações que vão decidindo o nosso futuro, o nosso presente, e consequentemente, o nosso passado. Os nossos aprendizados.
A gente vai construindo a nossa história palavra por palavra, letrinha por letrinha. Naquele jantar que você aceitou, naquele olhar que você trocou, naquele convite que você negou, naquele abraço mais demorado que você deu. Cada pequena decisão vai deixando uma possível maior decisão mais difícil. Ou mais fácil.
É claro que se eu tivesse te ouvido lá no início, essa grande decisão que precisei tomar outro dia nem seria necessária. Mas talvez tivesse outra no lugar. E de novo, eu não teria vivido o que vivi. Aprendido o que aprendi. Sentido o que senti.
No final das contas, eu sinto muito por não te ouvir sempre. Mas ao mesmo tempo, eu sei que não te ouvir também faz parte do caminho. E sei que você nunca vai me deixar, nunca vai deixar de sussurrar no meu ouvido, me empurrar pro melhor caminho e abrir meus olhos pro pior.
Que bom. Não sei o que seria de mim sem você.
